Quando
penso no que é uma feminista, penso em todas as mulheres fortes que eu conheço e
que resistem no cotidiano a uma vida difícil para as mulheres. As mulheres que
são arrimos de família, que chefiam seus lares, que resistem à violência a que são
submetidas, ainda que essas resistências estejam ainda no plano do individual,
do cotidiano e que não se tenha rompido com o ciclo da violência; as mulheres
que ousam não se submeter às pressões sociais que determinam o que é ser mulher
(mulheres que decidem ser mães de cachorros, que decidem não ter filhos biológicos
ou as que decidem adotar); mulheres que se desdobram em várias para manter
financeiramente um lar ou para ajudar a mantê-lo junto com os maridos; as mães solteiras;
as que trabalham fora e estudam assumindo triplas jornadas de trabalho; as que
ousam também desafiar o que se entende comumente por feminista e decidem ter
uma vida voltada ao lar e ao cuidado com os filhos; as que estão ocupando espaços
historicamente masculinos (na construção civil, na direção dos transportes
públicos, na condução de tratores, nos grupos de choque da polícia); as que
estão no sertão resistindo à seca e à fome; as garotas que são abusadas
sexualmente e conseguem ser resilientes ao ponto de fortalecer outras mulheres
ou escrever sobre isso; as mulheres da comunidade que resistem às crises econômicas,
aos desempregos; as que decidem separar e não casar mais ou as que casam e
procuram ter relacionamentos mais democráticos com os parceiros; as que andam
de bike na cidade e sofrem assédios dos motoqueiros e ainda assim resistem; as
que decidem ter relacionamentos que não sejam fixos; as que ascendem
socialmente e conseguem alcançar uma universidade; as mães universitárias; as
mulheres maduras que ocupam lugares nas faculdades privadas porque as
universidades públicas ainda são sonhos distantes de sua realidade; as líderes
comunitárias que eu atendia como assistente social e que eram capazes de
liderar toda uma comunidade, combater a violência e ter poder e influência
política; nas meninas que estão em profissões que historicamente foram
masculinas, como a Engenharia Civil; as que superam relacionamentos abusivos;
as mães que se desdobram para que as filhas estudem. Todas elas estão também
questionando, na prática, modos de ser mulher, modos do que se diz que é ser
mulher e lutando no cotidiano para mudar suas condições objetivas de vida, das
suas filhas ou num plano ainda mais coletivo para todas as mulheres.
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