quarta-feira, 28 de setembro de 2016

"Somos quem podemos ser", como diz o poeta

Eu queria dizer que sou um poço de contradições. Eu não sou o que ninguém aqui gostaria que eu fosse. Ainda que eu juntasse numa só pessoa o que cada um queria que eu fosse, ainda assim eu não seria perfeita e desagradaria outros tantos. Então, quem sabe uma saída menos conflituosa para isso tudo não seria aceitarmos as nossas contradições e as dos outros?

Jesus Cristo estava muito certo quando indagou para que olhássemos primeiro para a trave que estava no nosso olho antes de olhar para o cisco no olho do irmão. Ele sabia que o ser humano teria mesmo a tendência quase carnal para fazer isso.



O meu convite é: bem vindos a essa imperfeição e grande contradição que somos nós, seres humanos. Quão bom seria aceitarmos essa condição tão natural do ser humano! Se aceitássemos isso a condição de aceitarmos os outros seria mais fácil.

Então, vocês que estão aqui, o convite é: me aceitem e se aceitem! E se não puderem me engolir mesmo: me excluam! Eu não vou entender porque sempre prefiro o diálogo, mas vou aceitar.

Eu sou péssima com datas festivas. Heranças maternas! Fico numa bad horrível na semana do meu aniversário e no dia, então...!



Paguei caro e à vista pelo amor de um dos meus melhores amigos, meu cachorro Tunico, um yorkshire terrier com pedigree. Não foi por achar que os de raça tenham mais valor, mas moro num apartamento e queria a sensação de controle sobre o quanto ele poderia crescer ou a bagunça que ele poderia causar. Ainda não encontrei um lugar que doasse yorks... Quando souberem, me avisem! Comprei e não me arrependo. Na verdade, foi a melhor compra da minha vida! Foi a única compra que me trouxe amor e fidelidade em troca.



Casei com um guarda municipal. Tenho orgulho de vê-lo fardado porque só nós dois sabemos o preço que custou até ele vestir essa farda. Eu também sonhei muito vestir uma farda um dia. Quis muito ser de colégio militar e vou acabar projetando isso nos nossos filhos, inevitavelmente.

Meu marido pensa diferente de mim em alguns aspectos, mas é nos braços dele que eu encontro paz. Nossas diferenças são mínimas dentro desse abraço e dos risos que ele me proporciona.

Não acredito no fim da propriedade privada, também sou cética quanto ao fim do capitalismo. Sou pessimista quanto ao ser humano, mas acredito numa sociedade que amanhã possa ser mais justa que a de hoje e a de ontem.

Sou feminista, mas confesso que tenho ficado cada vez mais com receio de me afirmar como tal. Aproximar-me dos feminismos para pesquisar me fez ver as disputas internas por posição, para quem fala no centro, as classificações criadas. Antes eu idealizava os movimentos sociais e hoje já não sou mais capaz disso. Idealizava a universidade, mas, como diz um grande mestre: ela desperta o pior das pessoas. Digo mais: ela mexe com egos!

Eu até gosto de problematizar as coisas, mas me preocupo quando isso se transfere demasiadamente para o cotidiano e como transformamos nosso dia a dia em trincheiras de guerra. É complicado acionar a reflexiva e a questionadora a todo o momento. Isso cansa também! Eu preciso do botão desligar a reflexiva para viver e também conviver.



As pessoas falam muito em armas de fogo, em bombas de efeito moral, mas para mim a arma mais mortífera é a língua. Ela aciona o ódio, as fofocas, as intrigas, as mentiras. A arma da língua tem o poder de matar pessoas em vida.



Eu não acredito numa sociedade sem polícia, mas acredito numa outra forma de polícia que seja possível, numa polícia comunitária.

Existem pessoas que me fazem querer desistir de tudo que conquistei até aqui. No entanto, quando recordo a batalha que foi chegar até aqui eu paro e penso duas vezes.

Sou daquelas feministas cristãs. Enxergo a Bíblica com outros olhos e acho isso plenamente possível.

Eu nunca disse Fora Temer. Para dizer isso eu precisaria colocar os outros foras juntos e talvez não terminasse hoje. Admiro quem é Fora Temer todo dia no facebook, mas eu prefiro postar a foto do meu cachorro, falar bobagens no blog, ver as tirinhas do suricate seboso.



Acho engraçado quem anula os outros que discordam de você. Se eu fosse aplicar isso ao pé da letra, eu começaria com minha família, meu marido e terminaria numa ilha sozinha, apartada da sociedade. Acho muito interessante quem deseja uma terra dos smurfs, todos da cor azul, sendo que o colorido é mais rico.



Eu sou evangélica assembleiana. Eu tento fazer a coisa certa e ser condizente com a minha fé. Às vezes eu fico moída por dentro para manter os outros inteiros; às vezes dou o outro lado da cara para bater; às vezes fico em silêncio para não me irar, não magoar, não responder na mesma altura, não entrar em brigas desnecessárias que tirem minha paz de espírito: às vezes sorrio querendo chorar. Ninguém é capaz de ver isso. E por mais que eu tente, sempre haverá alguém para dizer que não é verdade, que eu sou o oposto disso. Sempre haverão aqueles que esperam para me rotular como fundamentalista, conservadora, mas outros já tem a convicção e nem adianta que eu me explique.

Cansa tentar ser boazinha demais, acessível demais, delicada demais. Pesa! Às vezes eu quero até que me tomem como má, chata, egoísta. Essa imagem de mim mesma parece bem mais humana.

Eu não consigo mensurar o sofrimento das pessoas. Num plano coletivo isso é possível, mas num plano individual, das subjetividades, isso é impossível. Acredito naquele ditado "Cada um sabe onde o sapato lhe aperta.". Faço terapia. Brigo com minha psicóloga porque incorporo esse discurso e acho que minhas dores são menores que a de todo mundo, mas só quem sabe das minhas dores sou eu.

Sinto medo quando as pessoas gritam: "Fascistas não passarão!" e não conseguem enxergar os fascismos em si mesmas.



Não sei lidar com crianças, mas quero ser mãe.

Eu ainda fico surpresa com as coisas que inventam ao meu respeito. Até hoje não entendo o motivo das pessoas preferirem falar de mim e não comigo. As pessoas não só inventam coisas sobre mim, elas ficam com raiva, elas passam a me tratar com desdém. Entendi que por mais que eu as trate com educação ou mesmo amor, não vai adiantar: elas vão continuar. Não importa o que eu faça.



Então, deixem-me ser o que sou e se deixem ser quem vocês são! Ninguém está parado no tempo. As palavras não estão congeladas no tempo também. As pessoas mudam e vão refazendo suas posições. O sempre para qualquer pessoa é uma palavra forte demais, definitiva demais para ser dita. O que sou hoje não corresponde bem ao que eu era ontem. Somos mais que o sempre, somos pessoas em constante movimento. Somos com o que estamos. As pessoas se movem no mundo. Como diz o poeta Humberto Guessinguer: "Somos quem podemos ser, sonhos que podemos ter".

A ideologia de gênero é perigosa

A ideologia de gênero é perigosa. Não sei se você terá estomago para ler até o final esse texto, pois a lavagem cerebral dessa teoria perigosa é gritante. É coisa de petista, esquerdista (ou esquerdopata, como preferimos), comunista, maconheiros das humanas, apesar de muitas estudiosas de gênero não apoiarem o PT e não serem comunistas.



Primeiro, ela te faz acreditar que mulheres são seres humanos, que tem o mesmo valor que os homens. Antes que vocês me digam: ah, mas homens foram feitos por Deus antes das mulheres. Lá no Novo Testamento, em Efésios, se diz que as mulheres devem ser submissas aos maridos. As pessoas se concentram tanto em provar a submissão da mulher perante o homem que esquecem apenas da outra parte no mesmo trecho bíblico: “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela (...) Assim os maridos devem amar as suas mulheres, como a seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Certamente, ninguém jamais aborreceu a sua própria carne; ao contrário, cada qual a alimenta e a trata, como Cristo faz à sua Igreja. Em resumo, o que importa é que cada um de vós ame a sua mulher como a si mesmo, e a mulher respeite o seu marido.Efésios 5:22-29

Nunca vi Jesus tratar a sua igreja com violência, punir, massacrar, porque “amai-vos uns aos outros como a si mesmos.” (Evangelho de João, 13: 34) foi o principal mandamento que Ele deixou (que não anulava os outros, claro). Quem ama de fato a si mesmo, não maltrata, não sobrecarrega, não o torna uma pessoa infeliz, apoia que a pessoa se desenvolva intelectual e profissionalmente.

A igualdade que os ideólogos de gênero pregam não é que mulheres sejam iguais aos homens, mas que elas possam ter os mesmos DIREITOS positivados: possam votar, possam ter os mesmos direitos trabalhistas, previdenciários. Mas as femimistas, feminazis, querem que as mulheres tenham privilégios. É por isso que as mulheres se aposentam primeiro, tem direito à licença maternidade. Por que não direitos IGUAIS, já que querem igualdade? Opa, mas eu defendo são as diferenças (homem é homem e mulher é mulher)... Estou confuso(a). Mas, vamos lá, vou explicar porque mulheres se aposentam mais cedo segundo os argumentos desses ideólogos: porque a carga de trabalho ainda é maior para as mulheres. Elas trabalham fora de casa, mas quando chegam ainda tem o trabalho doméstico, o cuidado com filhos. Apesar de achar que trabalho doméstico não é cansativo, que tal experimentar um dia dele para sentir na pele?



Segundo, ela te faz crer que você pode ter casado com uma mulher e não com uma escrava doméstica. Ela faz com que as mulheres acreditem que elas não tem um DNA para o trabalho doméstico. Isso é perigoso na medida em que essa crença te fazia ter o privilégio de não ter que realizar o trabalho doméstico. Elas crendo que não é atribuição privativa e biológica do ser mulher, rebelam-se e pensam que vocês, homens, devam colaborar em casa. Contudo, se vocês, homens, varrerem a casa e passarem o pano, por exemplo, enquanto as mulheres lavam a louça... Corre a crença de que, de repetente, “aquilo caia”, ou que você colabore tanto com o trabalho doméstico que depois se transforme numa mulher. Sim, elas creem que como todos os que moram na casa, cada um deve ter sua parcela de colaboração para que o ambiente doméstico seja minimamente organizado. Não é uma guerra entre os sexos, mas vamos fazer crer isso para que mais pessoas se irem contra essa ideologia.



Tem uma guru feminista, Simone de Beauvoir, que afirma categoricamente “Não se nasce mulher, torna-se”. Não é nem que as meninas não nasçam com, ah, vocês sabem... Mas que muito do que se considera que é natural de mulher é, na verdade, parte de uma educação. Sabe aquelas brincadeiras de comidinha, cozinha, vassourinhas? Você aprenderia a ser mulher assim e não por uma propensão natural, biológica. A infância seria só um aprendizado da vida adulta. E NÃO SE TRATA de meninas deixarem de brincar de bonecas, de comidinha, casinha...elas podem até gostar e você incentivar isso nelas. No entanto, é muito perigoso fazer com que meninas brinquem com coisas que incentivem a imaginação, a criatividade, a liderança, as relações interpessoais...nada de legos, bola, carrinhos rosa choque que elas possam dirigir (dirigir é coisa de homem, de menino), quebra-cabeças, jogos de tabuleiro ou cartas. 



Essa teoria, então, é devastadora para a família. Ora, mulheres e homens colaborando com o trabalho doméstico, dividindo as tarefas de casa de modo mais igualitário, é um absurdo, uma verdadeira ideologia. Isso só faria a mulher mais feliz e não o homem, pois ele iria chegar do trabalho cansado e ter que ajudar na janta, colocar filho para dormir. Quem deve chegar em casa cansada, fazer a janta e depois colocar o menino para dormir é a mulher, exausta. Afinal, cuidar de um filho para o homem é prover financeiramente.. nada de aproximação afetiva com a criança, carinho. Se o homem dá uma pensão ou paga o colégio da criança, está tudo bem. Se brinca duas horinhas todos os dias, é o suficiente, cumpriu sua função de pai. Isso é paternidade.

 A teoria é tão absurda que faz com que as mulheres possam se amar do jeitinho que são. Agora é uma onda de mulher negra usar aqueles cabelos black power, cachear... uma onda de mulheres cheinhas se aceitarem e criticarem os padrões de beleza. Era tão legal quando todas tentavam enquadrar-se num único padrão de ser mulher! Era muito massa quando todas tentavam parecer com aquelas modelos magras da capa de revista, ou então quando as negras usavam a base ou pó branco, alisavam os cabelos, porque ser branca era o legal. Bacana era quando as meninas mais cheinhas sofriam porque, por mais que tentassem, não conseguiam entrar no manequim 36. Poxa, hoje em dia é todo mundo muito diferente, cada um tentando se sentir bem com o que é.

No tempo dos meus avós as relações duravam bem mais. Lembro de uma tia avó que apanhava do marido. Ele trancava ela no chiqueiro de casa, lá no quintal, junto com as galinhas, engaiolada e, mesmo assim, ela levava o casamento porque, afinal, “Felizes para sempre”. No tempo das minhas bisavós era bem melhor, eram os pais que escolhiam com quem elas iriam se casar. Elas se casavam com homens 10, 20 anos mais velhos e casavam adolescentes, com 13, 14 anos. As coisas começaram a desandar desde que as mulheres puderam escolher com quem se casariam, pelo amor, mas também avaliando as condições financeiras do casal e priorizando suas carreiras profissionais. As coisas desandaram quando elas passaram a não aceitar as traições dos maridos, as violências.

Hoje as mulheres querem ter, no máximo, 2 filhos. Deixaram de romantizar a maternidade. Nossas avós tinham 10, 15 filhos, pariam com dor mesmo, em casa, sem condições sanitárias ideais, sem frescura. Sei lá, as mulheres hoje em dia querem fugir da dor, só querem cesariana. Elas tomam anticoncepcionais para evitar a gravidez. Elas escolhem quando querem ter uma criança! Poxa, as feminazis nos fizeram crer que maternidade é escolha, não imposição social e que algumas mulheres simplesmente escolhem não ser mães! Louco isso! Algumas, mais cruéis, optam primeiro por ter uma vida profissional estável antes de ter uma criança.

Entramos em outra questão, porque as mulheres não querem mais ficar só em casa. Ainda que tenham filhos, elas querem estar trabalhando e tentando conciliar trabalho fora de casa com a maternidade. Elas querem estudar, fazer faculdade, pós-graduação! Por isso estão tendo filhos mais tarde também.

Os costumes são imutáveis. Até nas roupas. Ora, homens sempre usaram calças e mulheres sempre saias. As famílias sempre foram formadas por pai, mãe e filhos.


Essa ideologia se alastrou como uma doença: está nos livros, nas cartilhas do MEC (que nunca conseguimos provar que foram aprovadas), nas músicas, nos filmes, nas leis. Enquanto isso prefiro ficar com meu discursozinho de combate à ideologia de gênero, quando na prática usufruo das conquistas feministas, das discussões problematizadoras dessa ideologia. Estou discursando aqui contra a ideologia de gênero quando, na minha vida pessoal tenho relações mais igualitárias, domingo vou votar, na próxima semana estarei na assembleia legislativa discursando contra a ideologia de gênero para uma maioria de homens; estarei nos púlpitos (locais que historicamente foram de homens) pregando contra essa ideologia satânica; na segunda vou trabalhar e ganhar por isso; em casa não aceito ser capacho do marido, do noivo, no namorado; discurso contra a ideologia de gênero só porque me parece coisa de esquerda, comunista, petista, dilmista. Só pela birra, só por ser contra tudo que venha “de lá”. Mas, se eu parar para refletir, a ideologia é minha.  

sábado, 17 de setembro de 2016

O que é uma feminista?

Quando penso no que é uma feminista, penso em todas as mulheres fortes que eu conheço e que resistem no cotidiano a uma vida difícil para as mulheres. As mulheres que são arrimos de família, que chefiam seus lares, que resistem à violência a que são submetidas, ainda que essas resistências estejam ainda no plano do individual, do cotidiano e que não se tenha rompido com o ciclo da violência; as mulheres que ousam não se submeter às pressões sociais que determinam o que é ser mulher (mulheres que decidem ser mães de cachorros, que decidem não ter filhos biológicos ou as que decidem adotar); mulheres que se desdobram em várias para manter financeiramente um lar ou para ajudar a mantê-lo junto com os maridos; as mães solteiras; as que trabalham fora e estudam assumindo triplas jornadas de trabalho; as que ousam também desafiar o que se entende comumente por feminista e decidem ter uma vida voltada ao lar e ao cuidado com os filhos; as que estão ocupando espaços historicamente masculinos (na construção civil, na direção dos transportes públicos, na condução de tratores, nos grupos de choque da polícia); as que estão no sertão resistindo à seca e à fome; as garotas que são abusadas sexualmente e conseguem ser resilientes ao ponto de fortalecer outras mulheres ou escrever sobre isso; as mulheres da comunidade que resistem às crises econômicas, aos desempregos; as que decidem separar e não casar mais ou as que casam e procuram ter relacionamentos mais democráticos com os parceiros; as que andam de bike na cidade e sofrem assédios dos motoqueiros e ainda assim resistem; as que decidem ter relacionamentos que não sejam fixos; as que ascendem socialmente e conseguem alcançar uma universidade; as mães universitárias; as mulheres maduras que ocupam lugares nas faculdades privadas porque as universidades públicas ainda são sonhos distantes de sua realidade; as líderes comunitárias que eu atendia como assistente social e que eram capazes de liderar toda uma comunidade, combater a violência e ter poder e influência política; nas meninas que estão em profissões que historicamente foram masculinas, como a Engenharia Civil; as que superam relacionamentos abusivos; as mães que se desdobram para que as filhas estudem. Todas elas estão também questionando, na prática, modos de ser mulher, modos do que se diz que é ser mulher e lutando no cotidiano para mudar suas condições objetivas de vida, das suas filhas ou num plano ainda mais coletivo para todas as mulheres.