Chegar aos 30 anos de idade assusta. Você percebe que definitivamente não é mais uma criança, nem uma adolescente (apesar dos resquícios delas ainda estarem aí). Já não tem como se defender pelos outros (sabe a mãe que vai resolver seu problema na escola? O irmão mais velho que te defende dos meninos? O pai que briga quando alguém te insulta na rua?). Você precisa enfrentar as coisas sozinha. O peso da responsabilidade sobre cada escolha parece maior. Nesse momento da vida você não decide apenas entre o sabor de um sorvete ou de outro e sim sobre permanecer num emprego ou não; desistir de uma profissão ou não; comprar um imóvel ou não; ter um filho agora ou não.
Você está num limbo entre a juventude e a maturidade. Você é cobrada a estar com uma vida estável, um emprego estável, uma família estável. Isso são coisas que tanto os outros quanto você mesma se cobra. Ora, quando criança a gente brincava com as priminhas de que aos 30 anos estaríamos casadas, morando fora do país com 3 filhos, um carro de luxo e viajando pelo mundo.
Você sabe definitivamente que chegou aos 30 quando as varizes começam a aparecer; quando o exercício físico não é mais um modo de te deixar bombada e sim uma necessidade, pois sua saúde depende disso; quando tudo que você come começa a acumular na barriga (foi-se o tempo que poderíamos comer tudo porque o metabolismo estava a mil).
Por outro lado, você vai aos poucos deixando de ter medo do que os outros vão pensar, formula opiniões próprias, cansa-se de repetir o que os outros pensam por medo e as ideias vão amadurecendo.
As vontades mudam. Você não tem mais vontade de estar em festas com os amigos. Sua vontade é de calmaria, de um lugar para sentar e comer enquanto conversa com os amigos. Seus amigos também mudam, apesar de muitos permanecerem. Os que permanecem tem a maturidade de entender que suas necessidades mudaram, sua vida mudou e ficam felizes com suas novas escolhas. Você deixa de querer agradar todo mundo e sabe que isso é impossível. Você sabe responder provocações (sim, às vezes a gente explode, é humano). Você evita as pessoas chatas, que sugam suas forças. Não se importa mais com a quantidade de amigos reais ou virtuais. Aos poucos você vai preferindo aqueles contados nos dedos e sinceros.
Você sabe o que quer. Ao menos sabe que não saber o que quer também é uma forma de saber o que quer. Seu modo de se vestir muda também. Você não tem mais a necessidade de aparecer para os outros. Você tem a necessidade urgente de aparecer para si mesma, de se gostar, se amar e de aceitar as mudanças processadas no próprio corpo. Seu estilo musical também muda. Você não está mais preocupada em cantar uma crítica social ao mundo, você quer é ouvir uma boa MPB ou dançar ao som de uma besteira. Sabe aquela coisa: ou sou roqueira ou sou pagodeira? Acaba. Você escuta o que lhe agrada e pronto. Você não tem a necessidade de mudar o mundo, porque o mundo é muita coisa para você. Se conseguir promover mudanças na própria vida e na das pessoas que estão ao seu redor já é um ganho inestimável.
Esse é o momento que você reavalia a vida: o que fiz até aqui? O que conquistei? Valeu à pena? Foram as escolhas certas?
Seus planos de vida são: adquirir uma casa própria e viver em paz, não é mais apenas o sapato ou a roupa da moda. Você quer sossego. Você quer um balanço de rede na varanda, deitar a cabeça em paz no final do dia, pagar as contas sem aperto. A maternidade já não te assusta tanto quanto antes. Você começa a dar mais valor ao seu lado espiritual e já não se imagina sem Deus, não questiona mais sua existência porque você tem a certeza de que Ele existe. Por fim, a partir daqui você deixa de contar a idade. Até porque você na verdade nem se reconhece com 30 anos, pois dentro de você gritam uma criança, uma adolescente e uma mulher.