Ela é uma mulher que não se estressa com facilidade. Nem por pequenos, nem grandes motivos. Ela perdoa com facilidade e esquece com mais ainda. Nada de memória de elefante guardando o que não presta.
É uma deusa na cama. Nada de pudor ou de dor. Guarda o pudor para fora das paredes do quarto.
Mãe exemplar. Madrugada adentro com o bebê e ainda acorda com sorriso estampado no rosto, pronta a receber visitas. Mantém-se desejada e desejável.
Os amigos dele a admiram. Sabem o quanto ela o merece. Você a carrega como um troféu entre os amigos. Olha o que eu posso! É seu troféu particular. É um mulherão. Sempre disposta ao sexo.
Compreensiva com os compromissos sem hora para voltar. O trabalho sem hora para terminar. As coisas marcadas em cima da hora. O telefone sob mistérios.
Temente a Deus. Só escuta louvores. Mantém-se sempre linda e desejável. Depilação, maquiagem, roupas que não estão gastas, sexy e na moda. Ela arrasta olhares, primeiro o seu. Não se importa se você olha as mulheres lindas que passam do lado de vocês, pois é autoconfiante o suficiente e não tem você como algo que possua. Você não é propriedade dela. Você não é dela, mas ela se sente sua.
É expansiva, sabe falar e se portar. Não se aborrece com quem a aborrece porque não vai perder seu tempo precioso com isso. Ela tem o que fazer!
Ama a sua família perfeita porque é sua. Aceita numa boa as críticas à família dela porque ela mesma percebe os defeitos.
O perfume que exala é sempre maior que o de alho e cebola nas mãos.
Te enxerga com perfeição. Não aponta seus defeitos porque ela também tem os dela. Não se desfaz em pedaços com seus erros. Tolera. Errar é humano. Cometer o mesmo erro é mais ainda. O cair é do homem...
Interessa-se pelo seu mundo e não importa se você não se interessa pelo dela porque isso é o de menos. Você é o centro da vida dela. Ela vem para o seu mundo, para as suas pessoas que se tornam amigas dela, mesmo que o contrário não seja possível.
Você faz o possível para que o fim seja certo para que ela carregue o peso da responsabilidade pelo fim de tudo. Ela te tem como único, insubstituível. Ela sofre por você e também ri com você. Ela enfrenta o que as pessoas pensam e o que julgam para tê-lo ao lado, assumindo a dependência. Mesmo que as pessoas não gostem de você, ela decide estar com você a despeito disso. Ela tenta. 70x7. Ainda que cada sete seja um rasgo na alma. Ainda que sua fé fique em frangalhos e você possa dizer em tom compreensivo: o que Deus tem a ver com isso?
Tenta manter a barriga no lugar. Não engorda. Tenta espremer o tempo para cuidar do corpo e merecer seu olhar. Confia plenamente e colocaria sua mão no fogo se preciso fosse. A cada chamada, está alí a postos. Vibra com todas as suas conquistas, ainda que elas possam te tirar de perto dela. Também chora com as suas perdas.
Cria seu filho como mãe zeloza. Cansada, mas te atende sexualmente. Abre sempre a porta de casa com sorriso estampado no rosto porque você finalmente chegou.
Cozinha, lava, passa. Ouve com respeito seus posicionamentos mesmo que fira os dela. Ainda que não concorde, discute e, no fim das contas, concorda com o seu porque é melhor.
Divide as contas. Não depende do seu salário, só de você.
Te deixa livre como passarinho. Faça o que quiser e não se importa. O que tiver que ser, será!
Sempre divertida, feliz, animada e alto astral. Não se derrete, passa longe da tpm, não da xiliques de vez em quando.
Essa mulher...Não existe!
Dilemas de uma AS em crise
domingo, 11 de março de 2018
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Essa é para você que não é mãe!
Longe de mim generalizar minha experiência com a maternidade, fazer dela um salvo-conduto para qualquer ação ou idealizá-la demais, mas ela me tornou uma pessoa melhor, mais consciente e mais madura.
Um dia eu fui a mulher que afirmou categoricamente: nunca serei mãe! Não tenho paciência para crianças, não sei
lidar com elas, conversar ou brincar. Às vezes até afirmava que não gostava
delas.
Eu era aquela que fazia cara feia
para as crianças barulhentas na igreja e para as mães delas também. Às
vezes até reclamava, mudava de lugar. Era aquela que me irritava com crianças
dando piti em shoppings, inquietas em filas. Era aquela que ficava zangada
quando uma mãe sentava com o filho na mesma mesa que eu para lanchar.
Não entendia o porquê de a maioria
das mães que eu conhecia terem pouco acesso às redes sociais ou responderem com
demora às minhas mensagens no zap. Não entendia a obsessão por publicações só
sobre os filhos. Achava que queriam furar filas usando seus bebês de colo. Achava
que algumas até se utilizavam do fato de estarem grávidas ou ter seus nenéns
para terem a desculpa de serem mais relapsas com o trabalho ou a vida
acadêmica. Eu evitava o olhar dos pequenos. Eu fui tudo isso. Então, o que
posso aconselhar é:
Não afirmem que nunca serão mães. Nossos
projetos de vida mudam com a idade e as circunstâncias.
Carregar um barrigão cansa, dói a
coluna, pesa na bexiga, provoca inchaço nos pés. Quem enjoa, enjoa mexxxmo...
Então, compreendam as saídas no meio das reuniões, das aulas, as faltas
justificadas...sejamos mais empáticos.
Às vezes me falta paciência até para
meu pequeno, mas é quando já estou no limite de minhas forças. Então, sou um
pouco mais tolerante com a mãe que repreendeu um filho...
Continuo inapta com crianças, às
vezes me sentindo um peixinho fora d'água, sem saber lidar direito com a maternidade,
mas estou tentando. Entendo as crianças como mini-adultos desarmados (sem fazer todos esses jogos que os adultos fazem, sem muito pudor para certas perguntas, sinceras demais)... Mais
que tudo isso: não saber lidar com crianças não é o mesmo que não gostar delas!
Troquem a cara feia pelo olhar de
compreensão. Se tiver o mínimo de habilidade, chame a atenção da criança com
alguma coisa, ofereça apoio à mãe em agonia, nem que seja com o olhar. Certamente
a mãe não queria estar naquela situação.
Não se importe se uma mãe sentar com
você. Não é sua companhia que ela quer compartilhar, mas a mesa espaçosa, a
ventilação, a sonoridade do espaço em que a mesa foi colocada...
Amamos demais nossos pequenos. Nossas
vidas mudaram drasticamente. Nossas vidas são eles e, portanto, nossas redes
sociais também.
Pode até ser que uma mãe abuse de
algum direito que tem, mas ela tem direito de ser preferencial. Filhos de colo,
pelo que passo e observo, preferem o colo da mãe a qualquer outro. Ainda que
esse outro esteja próximo, como uma avó ou um pai.
Largamos o celular no meio de uma
conversa no zap, não respondemos de imediato aquele e-mail ou aquele inbox.
Algumas das mensagens requerem respostas mais demoradas que só numa boa "dorminada" dos babys poderão ser respondidas. Às vezes isso demora dias!
Mães somem. Há dias fáceis e difíceis
na maternidade e os difíceis são a maioria deles. Então, não é porque ela se
distanciou deliberadamente, mas apenas o filho tomou todo o seu tempo.
As publicações são coisas do tipo
“tocar a campainha e sair correndo”. Sem muito tempo para rolar a tela do
smarthphone. Apenas postar algo especial do dia a dia.
Por fim, aonde houver uma mãe, ela
sempre precisará de ajuda. Ofereça. Se não puder, apenas compreenda.
sábado, 25 de novembro de 2017
Sobre seus três meses de vida...
O
tamanho das roupas muda rápido, de modo que já sinto saudade daquelas que você vestia
quando recém-nascido. É o que chamam de saudade aliviada. É um não querer
voltar no tempo, sentir alivio porque já passou e fui forte por chegar até
aqui.
Seu
peso mede o tamanho do nosso cansaço, das nossas dores nos pulsos e nas costas.
Um
filho é algo mais perto do divino que possamos imaginar. É você ter o poder da
criação. É brincar um pouco de ser Deus. É amar alguém mais que a si mesmo. É o
desejo de proteção, de que emane um poder curativo sobre ele, de moldar um ser
humano. Mas você percebe que a redoma é porosa e que você não pode tudo, não tem
controle sobre muita coisa ainda.
Os
dias ruins me fizeram perceber o valor que tem os dias comuns: dias nos quais
posso te carregar nos braços, mudar você de posição, te dar um banho. Enfim,
criar estratégias para ti fazer o bem. Estou aprendendo a ti colocar em
primeiro lugar, mesmo que isso custe meu próprio bem estar. Minha vida gira em
torno de você agora.
Meu
amor, se você soubesse como o mundo dos adultos é complicado, desejaria ser uma
eterna criança! Eu ainda olho para você, que cresce tão rápido, e tenho medo de
toda essa responsabilidade que carrego. Responsabilidade de sustento
financeiro, de ensinar a viver quando nem mesma eu sequer aprendi! Ainda cometo
erros dignos de jardim de infância. Você está aprendendo a viver, mas eu
também! Às vezes sou só uma menina criando um menino. Só queria que você
soubesse que o que eu pude fazer foi o melhor que consegui.
Às
vezes me demoro no banheiro propositalmente. Porque o tempo sozinha agora é
algo escasso e eu preciso dele. A desculpa do banheiro é para fugir um pouco da
função que pesa. Às vezes eu só queria desligar-me por alguns minutos que
sejam, só eu e o nada. Não fosse a mão de Deus em tudo, te confesso que já
teria pirado. Sinto que Ele me capacita todo dia mais um pouco.
Quanto ao fim da licença de quatro meses: definitivamente não é suficiente!
Uma
vez ouvi que cada fase é um desafio diferente. Não dei tanto valor porque imaginei:
o que pode ser mais pesado que o primeiro mês? E esses novos desafios vinheram:
os dentes, seu enjoo por causa disso, a sensação de que minha vida acabou
porque já não faço quase nada direito. Como comida gelada em pé de olho nos
seus rápidos cochilos que me dão rápidos descansos. Quando chega a noite, tendo
planejado o dia todo para estudar, eu só consigo deitar na cama e dormir
exausta. O notebook, os livros da tese e as apostilas dormem ao meu lado. Três banhos
por dia é um luxo. Banhos demorados, então, nem se fala! A casa muitas vezes
fica uma zona ao meu redor. Qualquer pessoa que entrasse diria ser um ambiente
insalubre para crianças. Não posso fazer nada diante disso!
Aprendi
que com crianças não se planeja nada. Seus planos podem ir abaixo em poucos
segundos. É estar sempre à disposição para ter que sair de casa às pressas, ter
uma bolsa preparada, pensar sempre num plano b, estar disposta a sair de onde
estiver para atender o chamado de socorro de um filho. É querer ter momentos de
folga dele, mas, ao sair, não parar de pensar um segundo sequer naquele
rostinho lindo sorrindo e ter certeza de que não pode mais viver sem ele.
Entender
que não preciso levar tão a sério alguns conselhos de médicos, por exemplo:
sobre bicos, remédios e passeios. No cálculo frio da medicina não entra o
consolo de um bico para dormir, para lembrar a mama que não deu certo, para
curar a irritação. Também não entra o remédio que alivia o desconforto do
nascimento dos dentinhos. Não entra na conta o passeio como a saída de uma mãe
da clausura doméstica, um conforto para sentir-se ainda vivente do planeta
Terra, saudosa de gente e, de quebra, um filho mais sonolento quando volta para
casa. Um cachorrinho que arranque dele as melhores gargalhadas.
Vou
criando estratégias para tornar toda essa rotina menos desgastante. Tomo tanto
banho de sol quanto você, danço com você, canto e aprendo cada musiquinha. O lúdico
voltou para a minha vida! O magico, a fantasia, a lenda, os contos de fada, os
desenhos e a esperança. Algumas dessas músicas fazem todo o sentido na minha
vida de adulta e explicam um pouco do que sou hoje. Preciso mergulhar no que você
faz e reaprender a ser um pouco criança novamente. Então as músicas que giram
na minha cabeça são as suas.
Maternidade
não é magia, é muito sofrimento. Coisas que o facebook não mostra e as pessoas não dizem. Fico sugando
de mim sentidos mais profundos de toda essa experiência. Não espero nem quero
esperar gratidão, embora eu mereça. Se assim o fosse, sua dívida comigo seria
eterna!
Aprendi
que o que te faz rir não são os brinquedos mais caros, mas punhos de rede,
batidas de travesseiro na cama, blusas coloridas e corridas do seu cachorrinho
pela casa.
Começamos
a ganhar o mundo!
Quando
penso que estou capacitada para você, vem algo me mostrar minha impotência.
Para
cada mês que passa, poderei olhar para trás e perceber o quanto fui forte. Isso
me consola. Parece que lá do alto Deus diz: preciso armar as mães com uma armadura
forte.
Escrevo
para extravasar, para dar sentido, para aliviar, para encontrar outras mães na
mesma sintonia e para não pirar. Vejo outras mães, em outras fases da
maternidade, que conseguem fazer coisas que eu gostaria e deveria estar fazendo
e sinto uma ponta de inveja. Contudo, sei que não é mais o momento e só me
resta aceitar e esperar o meu momento também. Aceitar o inevitável da vida. Escolher
se na hora que você dorme eu descanso, estudo, limpo alguma coisa. Saber que a
escolha que eu tomar deixará todo o resto de pernas para o ar. Aceitar que pelo
melhor que eu faça, você passará por situações inevitáveis da vida como dor,
doença ou desassossego. Orar baixinho quando sentir algo sobrenatural de alguém lançado
sobre você. Aceitar com mais serenidade isso que tem relação com aceitar que
somos feitos da mesma carne humana perecível e frágil. Aceitar que a redoma é
porosa. Aceitar que já não sou mais eu, que eu não venho em primeiro lugar na
maioria esmagadora das vezes, que você é minha sombra e também meu combustível na
vida. É o que me faz ficar em pé ainda que não tenha forças. A escolha que não posso
abdicar para construir forças de onde não tenho para manter-me sã, saudável, viva
e forte. Porque até adoecer parece que não posso. Quando estou fraca é que
preciso me fazer forte.
quinta-feira, 9 de novembro de 2017
Pausa para enlouquecer
Porque
a vida exige que a gente seja feita de aço, quando somos feitas de carne e
osso. Porque viver é esse eterno quebrar-se e também ter que juntar os próprios
cacos e se recompor; rasgar-se e se remendar. Porque seu amor não foi
retribuído. Porque você não é capaz de conter a dor de um filho. Porque você
não tem controle sobre seu futuro. Porque às vezes não consegue controlar nem a
si mesma. Porque as pessoas vivem te julgando. Porque você tenta suprir as
expectativas dos outros para não ser tão julgada. Porque cada pessoa é uma
verdade parcial, um personagem que você inventa para si mesma. Porque o bem que
você quer, não faz, mas o mau que não queria fazer, é esse o que acaba fazendo.
Porque você não se deixa em paz. Porque você ama e as pessoas te amam de outro
jeito. Porque você faz o seu melhor, mas aquilo que não fez é o que vão
apontar. Porque você constrói castelos de areia mesmo na vida adulta. O vento
bate e vai levando tudo aos poucos. Porque você convive a vida toda com uma
pessoa e, do nada, tem que ver a pessoa dentro de um caixão sem vida. Porque
uma pessoa com vida entra em estágio de putrefação. Porque você precisa
conviver com isso. Porque as verdades geralmente são as coisas mais dolorosas
de serem ouvidas. Porque existem outras pessoas que você precisa matar em vida,
aquelas mortes que você tem que fazer no coração e na mente. Porque a vida
nunca espera para que você se recomponha. Ela fica ali, exigindo de você
insensível à sua dor. Porque o assaltante levou a bolsa da mulher na rua, os
cachorrinhos que a vizinha criava com tanto amor, mas também leva sua
credibilidade no mundo e nas pessoas junto com ele. Porque isso te dá pânico.
Porque você faz o seu melhor mas não é reconhecido. Porque você sofre por um
filho e sabe que esse amor às vezes nem é retribuído. Porque você sabe que vai
morrer e os outros que estão ao seu redor também, mas nunca está preparado para
isso. Porque você sofre um tempo enorme com coisas que não farão sentido algum
pela frente. Porque você tem mil coisas a fazer e não tem força para mover uma
palha. Porque a vida parece um conta-gotas que só cobra sua conta. Quando se
viu, já se está com quase 40. Porque o tempo passa, mas também porque ele não
passa e também porque não volta. Porque você não pode voltar para fazer as
coisas diferentes e precisa aceitar seus erros. Porque presença pode se tornar
sufocante. Presenças também podem ser ausências presentes. Porque às vezes se
está rodeada de pessoas, mas se está só. Porque você precisa de cédulas de
papel para viver. Porque você estuda uma vida toda pensando em um dia viver,
usufruir. Daí a vida passa. Porque você acredita que estudar, conseguir um bom
emprego, é vencer na vida. Porque nunca se sabe o que vai acontecer daqui a um
minuto. Porque se quer ficar, mas se quer sair. Porque quando se conquista
algo, passa a não fazer mais sentido.
Por
isso entendo as fugas. Ouvir música é fugir. Dançar é fugir. Malhar até queimar
a carne é fugir. Às vezes o músculo precisa doer para evitar a consciência. Correr,
caminhar, saltar, é fugir. Cantar é fugir. Beber é fugir, comer também. Ler é
fuga. Dormir é fuga. Enlouquecer é fuga. Beijar e transar pode ser fuga.
Drogar-se é fuga. Meditar é fuga. Rede social é fuga. Desabafo é fuga. Religião
é fuga. Fugir faz parte. É o ingrediente necessário para nos mantermos vivos.
sábado, 4 de novembro de 2017
Conselhos à mãe que fui no primeiro mês de vida do meu filho
Se
eu pudesse aproximar-me de mim mesma com as experiências que tenho hoje, eu me diria
muitas coisas. A primeira delas e que eu não dei importância quando ouvi de
outras mães: VAI PASSAR! As inúmeras vezes que você irá acordar durante a
madrugada, as inúmeras fraldas trocadas, o choro incontido do bebê pelo leite
que não descia, o seu choro porque o leite não descia, a impossibilidade de
movimentar-se para acudir o choro do bebê por conta das dores da cirurgia... TUDO
PASSA!
Na
sala de cirurgia nascerão duas pessoas, um bebê e uma mãe. Você vai ter que
aprender a amamentar, porque não é simplesmente colocar o bebê no seu peito.
Terá que aprender a ler os sinais dele, o choro. Com isso, aprender o que é
fome, fralda suja, vontade de dormir, de mudar de posição, cólica ou desejo de colo.
Não
pense no futuro, nas coisas que tem para fazer, nos projetos que ainda pensa em
realizar. Não se martirize com isso, porque simplesmente não dá para pensar em
nada disso agora. Simplesmente viva o que foi esperado por nove meses. Use a
licença até a última gota, pois ela serve para isso mesmo.
Os
outros é o que menos deve importar nesse momento. Educação vem em segundo lugar
(outro conselho que ouvi). Então, não se constranja de dizer que não pode
receber visita quando estiver exausta da longa noite insone; de estabelecer
limites, regras e horários. Tudo porque, em primeiro lugar, vem a criança e
você. Os outros que entendam! Quem te ama e se importa com vocês, certamente
vai entender.
Para
você, o bebê é a novidade. Para ele, o mundo todo é uma novidade de difícil
adaptação. Então, entenda como todo esse ambiente é estranho, diferente e
estressante. O choro é a única forma dele se comunicar. Não se desespere com
ele!
Respira,
inspira, não pira! Você deveria repetir essa frase para si mesma várias vezes
ao dia, como um mantra. Respirar fundo a cada palpite mal colocado, a cada incompreensão,
a cada falta de bom senso e de educação. Também permita-se pirar se algo te
incomoda. Já são muitas coisas para administrar entre você e o bebe para ter
que lidar com a loucura dos outros.
Não
pira, menina! Se a maternidade muitas vezes é fardo, também pode ser diversão.
Então, permita-se a oportunidade de reviver a infância. Se for para cantar, que
seja alto, maior que a sua voz interior te culpando, te fazendo pensar demais.
Se for para dançar, que pule, rebole, o corpo reviva coreografias aprendidas na
infância, a dor da dança seja maior que resquícios de dor da cesárea. Entre na
dança! Se for para fazer o bebê rir, se faça de palhaça!
Ser
mãe é ter que se envolver... Na dança, na brincadeira, na dor. Para cada estágio,
uma evolução. Haverá o momento de apenas balançar chocalhos, mas haverá o
momento de montar legos, quebra-cabeças e jogos de tabuleiro. Haverá o tempo de
falar perto dele. Converse mais, tira a tua timidez, a tua inabilidade com
criança. Ora, canta, desabafa, chora, mas fala!
Você
não pode ser diferente. Se errou em algumas coisas, acertou em outras. Os seus
erros foram tentando acertar. A maternidade tem sempre disso, de coisas que
pecamos por um lado tentando fazer o melhor que podemos. O meu melhor foi isso,
pequeno.
quarta-feira, 18 de outubro de 2017
Feminismo não é religião!
O feminismo não deve ser visto e exercido como uma religião: precisamos
catequizar as pessoas e torná-las feministas. Feminismo, definitivamente, não é
religião. Nosso projeto de sociedade não está assentado em outros planos do
cosmos, mas sim no mundo terreno, na sociedade atual. As mudanças que queremos
para o mundo devem estar plantadas aqui mesmo, no chão da realidade. O mundo
ideal não está num plano superior, divino, inumano; ele pode e deveria estar
aqui, fincando raízes na Terra. Talvez esse plano ideal nem precisasse mais do
feminismo, pois nele as pessoas tratariam umas às outras com respeito.
Nosso
intuito não é catequizar ninguém, nem mulheres, nem homens, nem antifeministas.
Quando falamos que mulheres deveriam ser atingidas pelo feminismo é o mesmo que
dizer que mulheres deveriam saber enxergar as amarras de violência, de abusos a
que estão submetidas. Também não é um discurso no qual somos vistas como as
mulheres que detêm um saber-poder que deva atingir as que não tem, que são
mulheres alienadas das relações de poder que estão submetidas. Nós, feministas,
também estamos inseridas nessas relações de poder e nos vemos em contradições
pessoais e sociais que precisamos mudar.
Não
propomos uma cruzada santa (ou mesmo profana) contra os homens ou a igreja de
Cristo na Terra. O que propomos são relações mais saudáveis entre homens e
mulheres, respeitosas, livres de violências e abusos. O que propomos é um
caminhar lado a lado: nem abaixo dos homens, nem acima deles.
sexta-feira, 22 de setembro de 2017
Com quais ingredientes se faz uma feminista?
Para alguns, adicionando uma
dose de nazismo, pelos nas pernas e axilas, uma porção de “lesbianismo”, uma
vontade de ser e tomar o lugar dos homens, autoritarismo, ateísmo, falta de
Deus, de conversão ou do que fazer, loucura, masculinidade, comunismo e não aceitação dos
papéis que a “natureza” ou Deus predeterminou.
Para uma boa dose de coletivos
feministas, uma sororidade quimérica, uma necessidade de politização da vida
social de outras mulheres e da própria vida, em todos os aspectos. A
independência e a autonomia confundidas muitas vezes com autossuficiência. Uma
mulher maravilha, quem sabe?
E o que eu acho que devam ser
os ingredientes de uma feminista?
Os ingredientes que cada mulher
puder ter em seu estoque pessoal, na própria dispensa. O fermento vai
funcionando paulatinamente, pois ninguém já nasce feminista totalmente
desconstruída. O combustível também depende de cada uma. Tem mulheres que usam
combustível na escrita, outras nas ruas, outras na vida pessoal. O importante e
o que faz ser feminismo é respingar esse combustível em outras mulheres.
Para ser feminista não existe
receita. Basta não querer se sentir uma merda, um nada. Basta não querer
carregar a culpa do mundo nas costas ou ser responsabilizada pela
atitude dos outros. Basta olhar com desconfiança para o mito do gene sexual que TUDO manda em mim, controlando cada passo que dou, cada gosto, cada pensamento.
Você pode até se relacionar
com um macho alfa. Pode até não ter a divisão sexual do trabalho doméstico
dividida igualitariamente com seu parceiro. Pode até competir com outras
mulheres vez ou outra sem se dar conta. Pode não conseguir educar seus filhos
de forma totalmente desconstruída. Pode ser cristã, mãe, esposa, feminina.
O que une uma feminista a
outra é que, primeiro, somos mulheres. Não nos conformamos com o machismo, ainda que não tenhamos
a força suficiente para mudá-lo sequer em nossas vidas pessoais. Ninguém pode
carregar nas costas o peso de mudar o mundo à sua volta porque ninguém tem esse
poder. O que podemos fazer, no máximo, é sair questionando as coisas. Isso força
as pessoas a se depararem com outros pontos de vista, mesmo que seja para
reforçar esses mesmos pontos de vista. O que une também cada feminista é estar
mergulhada em machismos e não se conformar com eles, mesmo num silêncio
angustioso, profundo... Em casa, na rua, nas relações. Então, sinta-se à
vontade para ser humana, real, falha, de carne e osso, com todas as suas
fraquezas e, ainda por cima, feminista.
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