O feminismo não deve ser visto e exercido como uma religião: precisamos
catequizar as pessoas e torná-las feministas. Feminismo, definitivamente, não é
religião. Nosso projeto de sociedade não está assentado em outros planos do
cosmos, mas sim no mundo terreno, na sociedade atual. As mudanças que queremos
para o mundo devem estar plantadas aqui mesmo, no chão da realidade. O mundo
ideal não está num plano superior, divino, inumano; ele pode e deveria estar
aqui, fincando raízes na Terra. Talvez esse plano ideal nem precisasse mais do
feminismo, pois nele as pessoas tratariam umas às outras com respeito.
Nosso
intuito não é catequizar ninguém, nem mulheres, nem homens, nem antifeministas.
Quando falamos que mulheres deveriam ser atingidas pelo feminismo é o mesmo que
dizer que mulheres deveriam saber enxergar as amarras de violência, de abusos a
que estão submetidas. Também não é um discurso no qual somos vistas como as
mulheres que detêm um saber-poder que deva atingir as que não tem, que são
mulheres alienadas das relações de poder que estão submetidas. Nós, feministas,
também estamos inseridas nessas relações de poder e nos vemos em contradições
pessoais e sociais que precisamos mudar.
Não
propomos uma cruzada santa (ou mesmo profana) contra os homens ou a igreja de
Cristo na Terra. O que propomos são relações mais saudáveis entre homens e
mulheres, respeitosas, livres de violências e abusos. O que propomos é um
caminhar lado a lado: nem abaixo dos homens, nem acima deles.