Eu
tiro de mim o crachá de feminista, pois não sou nem forte como eu queria, nem
autossuficiente quanto esperam que eu seja.
Uma feminista deve ser uma mulher
independente. Eu até sou. Ganho um pouco acima da média, dirijo meu carro, pago
minhas contas mensais, tenho uma profissão definida, mas há meses em que as
contas apertam e sinto falta de alguém para me ajudar a pagá-las e a resolver
as coisas.
Eu deveria ser uma mulher que não se importa com a opinião alheia, que
se veste, se calça e se penteia para si mesma e que age como quer agir. Eu não
sou essa mulher. Eu me importo se as pessoas me acham mais magra ou mais gorda,
se repararam na minha saia torta, se estou cheirando bem, se meu cabelo está
impecável, se minha maquiagem ficou legal. Também me importo com o grau de
julgamento das pessoas e às vezes me escondo dele. Eu também me deleito em me
vestir, calçar, pentear e ser para os outros: por que não haveria deleite
nisso? A marquinha do meu biquíni faz com que eu me sinta melhor, mas também me
faz bem parecer mais sensual.
Além disso, tenho um lado espiritual que também
bate forte no meu peito. Estudo nenhum foi capaz de desmistificar meu Deus.
Também
esperam que eu seja autossuficiente, dependa apenas de mim mesma, viva minha
vida com quem eu queira (um, dois, duas, ou mais pessoas, quem sabe), mas tenho
minhas dúvidas se afeto se constrói no poliamor ou em relações extraconjugais
(às vezes o subverter as coisas parece mais do mesmo, um nome diferente para
definir uma coisa que sempre existiu, a falta de fidelidade do ser humano com
seus iguais).
Eu me sustento emocionalmente também. Não sou só um corpo, nem só
uma mente, sou emoção e afetos, tudo muito misturado. Sustento-me também da rede de afetos ao redor:
família, amigos, um companheiro e filhos. Eu dependo emocionalmente deles. Minha
felicidade não seria completa na suposta fachada de independência misturada à
autossuficiência. Não sou autossuficiente, pois dependo de muitas pessoas ao
redor para me manter bem.
Eu queria ser aquela mulher feminista que sabe muito
bem escolher com quem se relaciona, mas eu nunca soube, talvez nunca saberei.
Eu me vejo envolta em relacionamentos abusivos e não sei como sair. Já perdoei
quem me fez muito mal, mesmo após o feminismo. Eu faço péssimas escolhas
emocionais.
Eu falho, eu erro, sou impulsiva, sou carnal, sou humana, tenho
raiva e logo depois amor, às vezes minha vontade é matar e logo depois não,
jogo merda no ventilador e depois me vejo tentando juntar a sujeira que ficou.
Talvez o rótulo de feminista seja algo que eu não possa atingir. Sou humana
demais para isso.