segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Estou tirando minhas credenciais de feminista

Eu tiro de mim o crachá de feminista, pois não sou nem forte como eu queria, nem autossuficiente quanto esperam que eu seja. 
Uma feminista deve ser uma mulher independente. Eu até sou. Ganho um pouco acima da média, dirijo meu carro, pago minhas contas mensais, tenho uma profissão definida, mas há meses em que as contas apertam e sinto falta de alguém para me ajudar a pagá-las e a resolver as coisas. 



Eu deveria ser uma mulher que não se importa com a opinião alheia, que se veste, se calça e se penteia para si mesma e que age como quer agir. Eu não sou essa mulher. Eu me importo se as pessoas me acham mais magra ou mais gorda, se repararam na minha saia torta, se estou cheirando bem, se meu cabelo está impecável, se minha maquiagem ficou legal. Também me importo com o grau de julgamento das pessoas e às vezes me escondo dele. Eu também me deleito em me vestir, calçar, pentear e ser para os outros: por que não haveria deleite nisso? A marquinha do meu biquíni faz com que eu me sinta melhor, mas também me faz bem parecer mais sensual. 


Além disso, tenho um lado espiritual que também bate forte no meu peito. Estudo nenhum foi capaz de desmistificar meu Deus. 

Também esperam que eu seja autossuficiente, dependa apenas de mim mesma, viva minha vida com quem eu queira (um, dois, duas, ou mais pessoas, quem sabe), mas tenho minhas dúvidas se afeto se constrói no poliamor ou em relações extraconjugais (às vezes o subverter as coisas parece mais do mesmo, um nome diferente para definir uma coisa que sempre existiu, a falta de fidelidade do ser humano com seus iguais). 


Eu me sustento emocionalmente também. Não sou só um corpo, nem só uma mente, sou emoção e afetos, tudo muito misturado. Sustento-me também da rede de afetos ao redor: família, amigos, um companheiro e filhos. Eu dependo emocionalmente deles. Minha felicidade não seria completa na suposta fachada de independência misturada à autossuficiência. Não sou autossuficiente, pois dependo de muitas pessoas ao redor para me manter bem. 

Eu queria ser aquela mulher feminista que sabe muito bem escolher com quem se relaciona, mas eu nunca soube, talvez nunca saberei. Eu me vejo envolta em relacionamentos abusivos e não sei como sair. Já perdoei quem me fez muito mal, mesmo após o feminismo. Eu faço péssimas escolhas emocionais. 



Eu falho, eu erro, sou impulsiva, sou carnal, sou humana, tenho raiva e logo depois amor, às vezes minha vontade é matar e logo depois não, jogo merda no ventilador e depois me vejo tentando juntar a sujeira que ficou. Talvez o rótulo de feminista seja algo que eu não possa atingir. Sou humana demais para isso.