A
minha posição de fala é de uma feminista branca acadêmica, que milita na
escrita e no cotidiano. Quando falo em cotidiano, falo nos embates do dia a
dia, na relação com meu marido, nas conversas de família e na sala de aula. Sou
uma feminista em processo de desconstrução de preconceitos, de machismos, que
não nasceu pronta e que nunca vai estar porque a vida é uma construção. Sou uma
feminista que não aceita a designação de cisgênero, pois não preciso de mais
uma classificação criada por outros grupos para me enclausurar.
Ouço
e leio muitas feministas sugerirem como uma feminista deve ser: devem falar a
partir de coletivos feministas, porque é impossível um feminismo solitário, que
se faz sozinha. Sinto que recaem hierarquias entre quem faz feminismos na
Academia, na escrita, na sala de aula e na internet, como se estes fossem
menores em relação aos de rua.
Portanto,
minha posição social é de uma má feminista: aquelas feministas que não querem
abandonar sua fé, que tentam ser pessoas melhores com a Bíblia, as cristãs; que
não procuram o quantum de feminismo na outra, que não tentam criar hierarquias
entre nós ou barreiras, que não confeccionam a carteirinha de feminista e ficam
tentando ver quem pode ter a credencial para entrar ou não. Sou das feministas
que não problematizam tudo porque isso me esgota e eu também preciso viver; que
ouvem Beyoncé, Britney Spears, Rihana e se sentem mais empoderadas com isso. Sou
daquelas que aproveitam as rebarbas do feminismo apropriado pelo mercado: nas
maquiagens, nas músicas, nos filmes. Sou heterossexual, casada com um
profissional da segurança pública, com ideias bem diferentes das minhas em
alguns aspectos; sou uma feminista que não tem um cotidiano organizadinho como
outras manas dizem ter. Enfim, sou do coletivo das feministas reais, falhas, humanas e não daquelas inventadas.
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