Cresci ouvindo que eu deveria estudar para "ser alguém na vida" ou "para vencer na vida". Nascida numa família pobre, eu só tinha duas alternativas na vida: ficar onde estava (e me contentar com o pequeno leque de oportunidades ofertadas a meninas da minha classe social) ou melhorar minhas condições de vida através dos estudos. Escolhi a segunda opção.
Desde criança eu já gostava de estudar. Já gostava de levar "notas azuis" para meus pais. Já gostava de mostrar um pouco do que havia aprendido na escola. O problema é que esse discurso de "vencer pelos estudos" faz muito sentido em outro país, não no Brasil. Tanto é que isso explica as grandes migrações de cientistas para o exterior. Aqui a educação não é prioridade. Ou você nasce rico ou você escolhe uma área que dê dinheiro.
Passaram-se os anos. Fiz uma universidade pública a muito custo. Foi um vestibular acirrado. Eram cerca de 40 pessoas para uma vaga. Mal sabia eu que as concorrências só iriam aumentar em outras circunstâncias da vida. Finda a faculdade, cursei mestrado e estou cursando doutorado. Continuo, porém, lutando. Continuo concorrendo com muitas pessoas por uma vaga de concurso público. Agora as concorrências são brutais: mais de cem pessoas para uma vaga, no melhor das hipóteses. As pessoas são cada vez mais capacitadas e as vagas cada vez mais escassas. A minha bolsa de doutorado é menor do que o salário de funções no serviço público que exigem apenas ensino médio ou fundamental. Continuo esperando meu lugar ao sol. Continuo preocupada se conseguirei pagar as contas no fim do mês, se o dinheiro paga determinadas necessidades de consumo e sonhando com o que não posso pagar.
E então, o que é "vencer na vida"? O que é "ser alguém"? Entendi que o significado dessas frases era mais simbólico do que prático. É sobre estudar e abrir a mente, libertar-se de alguns preconceitos, sobre se sentir bem e ter prazer com uma boa leitura, sobre escrever melhor que ontem, sobre partilhar seu conhecimento com os outros. Não é sobre ficar rica ou ter um belo patrimônio.
Como sempre, me identificando demais contigo!
ResponderExcluirGrande reflexão. Amei professora.
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